1983
Tenho o pior sentido de orientação das pessoas que conheço. No carro, perco-me com a música, com a conversa, com a chuva. O cinza profundo das nuvens perturba-me, é-me mesmo importante. Crio-lhe uma história, penso-lhe um futuro, arranjo-lhe um raio de sol. Quando dou pelo caminho, estacionei. Não vi a esquerda e a direita. Muito menos a enorme rotunda e a avenida de 5 km. Não vi provavelmente o meu amor, que não lhe conheço ainda o cheiro. Mas não tenho medo de lá voltar ou ir de novo. Perder-me é um lugar tão comum que não me assusta. Pego no carro e vou. Pego no carro e enquanto me perco chego a horas. O tempo ensinou-me a imensidão da sua importância. Não faço esperar. Foi assim que aprendi a colocar a casa dentro de uma mala em 5 minutos. Foi assim que decidi que a fazer é bem feito. Se é para gastar tempo, não cabe em mim apresentar coisa de que não me orgulhe.
Gabriela Relvas nasceu no Porto, em 1983. Natural de Esmoriz, licenciou-se em Comunicação Social na Escola Superior de Educação de Coimbra em 2005, formação que contemplou uma passagem por 6 meses na Universidade de Ciências Aplicadas Hanze, em Groningen. Já com um pé em Lisboa para terminar o estágio em produção televisiva na Endemol Portugal, acabou por pousar o outro. Frequentou o Curso Intensivo de Formação de Atores da Associação Cultural e Teatral In Impetus e uma diversidade de workshops em teatro, cinema e televisão. Fez musicais, teatro, revista, séries televisivas, telefilmes e novelas. Projetos que passaram pelo Teatro Tivoli, Teatro Sá da Bandeira, Casino Estoril, RTP2, RTP1, SIC e TVI. Em 2008 lançou um álbum de originais de hip-hop e R&B com mais 4 vocalistas. Abraçou a comunicação como apresentadora e repórter. Apresentou programas dedicados à cultura (Beat Generation, TVI24), entretenimento (Giro, Record TV) e economia (EDP On TV). Uma salada de frutas que cedo lhe deu sumo para o guionismo e para a produção de conteúdos, postos à prova no ano de 2017, na Direção de Comunicação da EDP.
Em 2018 inverte a marcha e regressa à origem, Esmoriz, depois de mais de duas mãos cheias de anos na capital. No Porto faz pela primeira vez cinema (Sefarad), integra a primeira série de educação para a saúde em Portugal (2’ Minutos para mudar de vida, RTP1), colabora pela primeira vez com o Porto Canal (Olá Maria) e edita o primeiro livro – A Ilha da Formiga. Um livro que começou a ser escrito em 2015, quando cria o blogue A Vida em Play. É daqui que nasce a grande maioria das crónicas, contos e diálogos autobiográficos que o preenchem e percorrem os anos de 2015, 2016, 2017, 2018 e 2019.